Orientado pelo professor Paulo Fernando Cotias
NAVEIRA, O. P. Os
Annales e as suas influências com as Ciências Sociais. In: Introdução ao estudo
da História. Rev. Virtual de História,
São Paulo, ano VI, n.27, janeiro/março, 2006.
Observar a trajetória
dos Annales permite-nos a idéia de uma história com forte relação unindo passado
e presente independente de suas rupturas e novos começos. Da mesma forma a
história, a antropologia e a sociologia, apesar de seus conflitos, são
dependentes uma das outras para que se forme um retrato do passado baseado em
diversos fragmentos; e mesmo assim não há regressão absoluta. Como uma ciência
fortemente volúvel por sua total dependência do processo de socialização de
quem a escreve, a história se modifica, é viva, pelas palavras de consagrados
nomes, como os principais mentores da revista de Annales – também denominada
Escola dos Annales – Marc Bloch e Lucian Febvre. Os Annales também são
considerados um movimento mesmo que não homogêneo. Podem-se ser especificados
em três fases: a primeira com seus mentores já citados, a segunda marcada por
Fernand Braudel e a terceira – também chamada de Nova História -, os
historiadores LeGoff, Duby. Há a preocupação da divulgação do conhecimento
mesmo que não somente na área acadêmica; não obstante nela ocorrem seus
principais debates. Não só isso, havia dois ramos de propostas: um baseado em
uma história experimental científica e outra que propunha a
interdisciplinaridade, abrangendo métodos e questionamentos advindos de outras
ciências sociais. Simiand propõem métodos unificados para todas as áreas de conhecimento
humano. Criticava a metodologia positivista uma vez que não aprovava a dimensão
temporal cronológica dos fatos, propondo assim, uma identificação de sistemas,
estabelecendo-os nas variações e recorrências dos fatos históricos. As
sugestões envolviam a sociologia e a partir dos Annales, a história passa a se
preocupar com a sociedade e as formas de sociabilidade, já que o homem é um ser
social. O homem deixa de ser sujeito e torna-se objeto. Com o tempo, a revista
torna-se uma publicação de grande prestígio. No séc XIX permanece a análise
positivista e surge a marxista; essa, estabelecendo a práxis de classe
revolucionária – ação humana transformadora da realidade social – e aquela
possuindo uma visão muito conservadora da sociedade - sendo chamada de
reacionária por marxistas ortodoxos. Marx pretende principalmente restituir o
homem à sua posição de sujeito retirando-o da alienação. Surgem várias
manifestações de suas idéias e a partir daí acontecem conflitos entre os
Annales e os já ditos marxistas ortodoxos, que diziam que a revista tinha
posição positivista. Outro nome de destaque é Levi Strauss. A sua preocupação
era a busca pela interpretação do Homem na sua tomada como objeto através do
acesso ao “outro”. Ponty, Durkheim, Levy Bruhl, Bloch e Mauss são exemplos
entre tantos que analisaram o acesso à interpretação para o “outro”. Suas
contribuições e influências foram importantes, mas Strauss foi quem melhor
desenvolveu. De acordo com Mauss o fato social era uma rede de valores
simbólicos que se insere no indivíduo mais profundo. No entanto ele não chegou
a um modelo. Com Strauss, os fatos sociais não são mais coisas ou idéias,
tornam-se estruturas. A etnologia (ramo das ciências humanas que tem por objeto o
conhecimento do conjunto dos caracteres de cada etnia, a fim de estabelecer as
linhas gerais da estrutura e da evolução das sociedades) torna-se uma forma de
pensar que exige a própria transformação daquele que a observa para que seja
possível ver como o outro; ignorar seu próprio eu a fim de que se compreenda
aquilo que excede a razão. Dessa forma, também para entender a história é
preciso de questionamentos do pesquisador e análises de diversas fontes que são
vestígio de possibilidades. As ciências socias, por sua característica básica
de entender a sociedade, são fundamentais para esse objetivo; daí a importância
da interdisciplinaridade.
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