"Ouve apenas superficialmente o que digo
e da falta de sentido nascerá um sentido
como de mim nasce inexplicavelmente vida alta e leve"
C. Lispector

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Desabafo!


Por mais que eu tente entender menos sentido eu vejo neste mundo. Muito menos nesta"simples" rede de relacionamentos que me envolve constantemente. Sofrimento, dificuldade, falta de oportunidade. Muita luta. Pouco resultado. Tudo isso pra quê?
Parece que quanto mais queremos menos encontramos. Tudo aquilo que mais buscamos não conseguimos. Não merecemos, sei lá. É só olhar para os lados. Não é difícil ver maldade. Não é difícil ver frustração e desespero. Será que devemos aprender com o sofrimento que sentimos? Aprender o quê? Que o mundo não presta? Que devemos temer a sociedade atual? Que nunca acharemos ninguém que nos ame de verdade, que nos complete? Pra quê Deus nos deu liberdade de escolha se sabia que ia dar merda? Perdoe o vocabulário.
Poxa!
Eu vejo Deus agir na minha vida. Mas é tão difícil saber o que Ele quer de mim. Se houvesse um letreiro luminoso - uma voz, sei lá - dizendo "Faça isso" eu simplesmente faria. Mas não é assim. Pelo contrário! A cada momento há duas escolhas na minha frente e o pensamento "Que seja feita a vontade de Deus". Bom e ai? as escolhas estão lá, esperando. Faço unidunitê? Peço um sinal: Se o vento mudar de lado, escolho o sorvete de pistache, se ele sumir, de creme, se não acontecer nada, de torta de limão. Ha! - deixo o mais gostoso para a opção mais provável ;)
Céus! A vida não é assim. Eu só queria uma certeza.. " É isso filha, se fizer diferente vai se magoar e vai demorar mais pra ir para o caminho que eu quero" Acabou. Faço e ponto. Sem estresse, sem mais erros...
Eu já erro demais normalmente, não preciso de mais uma dúvida. Ah, Deus sabe o que faz...
Mas que é difícil esperar, isso é!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Tentando


Formas literárias. Thanks, Ronaldo.


O medo assombrando os pensamentos dela. O encontro de olhares enfim acontece. Ele, misterioso, aproxima-se. Ela, gélida, treme diante do inesperado. “Oi” – Prólogo inútil e sem emoção.

- Bom dia! – diz ele, procurando palavras que não entreguem seus reais sentimentos.

- Bom dia. Ah, parabéns pelo concurso. Tchau. – fugir é tudo que ela precisa não o que realmente quer.

Ele segura- lhe o braço, olha de baixo a cima e para centrado em seus olhos. – naquela luz, de um doce mel, que faz perder qualquer intenção de sobriedade.

- Não vá! – balbucia, quase soletrando, fazendo durar o momento, suplicando secretamente que ela não seja tão intransigente – como ele próprio foi - às suas investidas.

“Tem! Que! Haver! Uma! Porta! De! Saíííííííííííída!” Pensa ela, copiando aquele sentimento de que leu recentemente de uma tal Clarice, temida por seus jovens amigos. Abaixa seus olhos:

- Faz-me um favor? SAI DA MINHA VIDA!

O desejo viril vence sempre o brio, diante de palavras tão amarguradas e sofridas. Sem soltar aquela pele macia, acariciando-a enquanto desce até as mãos, e as entrelaça, confrontando todos os esforços ocultos dela. De não deixar-se fragilizar, até por querer a tanto tempo e agora, orgulhosa, precisando não sentir nada. Segura a cintura, puxa-a para si. Ela, involuntária, absorvida no não deixar-se. Mas já deixara. O punho fechado pousa no ombro dele. “Eu preciso sair daqui!” A lágrima desce. O sorriso dele hipnotiza. Os corpos se aquecem juntos como um e lábios tocando-se lentamente. Um súbito lampejo de consciência.

- Já conseguiu o que quis, agora, suma daqui. Depois de tudo, eu coloquei uma coisa na minha cabeça: Eu não quero olhar pra você, pensar em você ao menos ouvir o doce som da sua voz. Mesmo que venha com o número da Mega Sena, eu não vou querer ouvir.

Aquelas palavras conhecidas soltaram fios de pura dor em ambos tão feridos.

- Você... Ainda me ama. – Ele, sempre dizendo o errado. “Será que ele não percebe que isso não faz diferença?”

Instigada, libera algumas daquelas palavras, engolidas nos meses de silêncio.

- Como pode fazer isso? Como pode fingir que nada aconteceu? Pelo menos algo de útil eu pude aprender. Você não sabe, ao menos compreende o que significa amizade. De que vale a pena lutar por você, se nunca será capaz de amar autenticamente? Espero que um dia você olhe para os lados e veja o quão sozinho e infeliz se tornou por não permitir que ninguém que se importa de verdade se aproxime de você. O quê acha que sou para aceitar facilmente suas vontades? Aprenda que o mundo dá voltas e não vale à pena magoar ninguém, porque não se negocia felicidade. Nem todo amor é incondicional e todos são incomensuráveis. Não vou ser hipócrita. É lógico que ainda gosto de você, e sou idiota por isso, mas esse sentimento não vai fazer com que seja mais fácil se aproximar de mim. Pelo contrário, cada vez mais percebo que o melhor não é você. E se você sente alguma consideração por mim, vai sair da minha frente e nunca mais vai cruzar o meu caminho.

Ela queria falar mais, contudo, nada mais saía, sentia somente uma onda nauseante de frustração.

- Perdoa-me? Fui estúpido! Fiz o que achei ser o melhor. Fui egoísta e me arrependo muito. Dá-me somente uma chance de te fazer feliz?

- Eu – outra lágrima fria- perdôo. Mas, chance, não. Por favor, sai da minha vida!

- Nunca.

E nada mais foi dito. Nem precisava. O destino próprio encarrega-se da justiça divina. Todos merecem sofrer por amor. Nada mais soube deles desde então. Há aqueles que dizem que tudo não passou daquele verão.