"Ouve apenas superficialmente o que digo
e da falta de sentido nascerá um sentido
como de mim nasce inexplicavelmente vida alta e leve"
C. Lispector

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Resignação

O despreparo do ser, a falta de ardor d'alma, a protelação do dever... Quando ando distraída pelos vales do humor penso como devia ter complicado menos, me esforçado mais- ou menos-, não ter me posto tanto no lugar dos outros, porque afinal ninguém faz isso... Será que só eu me importo se alguém que não eu, que normalmente nem conheço, pode estar sofrendo por minha culpa? Não. Estou certa. Vale à pena. Quero dizer, se eu quero tanto encontrar algo de bom nos outros, que eu continue sendo algo benigno pra alguém. Mesmo que esse alguém nunca perceba isso, já estou fazendo minha parte. Incrível como sem fazer nada eu incomodo tanta gente. Pessoas que nem me conhecem falam mal de mim. Eu nunca dei motivos pra nada. Sempre estou solícita, sorrindo, brincando nos momentos próprios pra isso, aproveitando intensamente o presente com a maturidade respectiva de tentar não machucar ninguém, e assumindo minhas responsabilidades. Assumindo minhas palavras.  Sempre acabo trabalhando de graça pra alguém, seja ajudando tia Jackie como ‘amiga da escola’- preenchendo infindáveis boletins, diários, fichas, arquivos... -, minha mãe - fazendo doces, comida, limpando, arrumando, vendendo, pechinchando, apoiando, seja em casa ou no serviço dela, o que quer que precise (exceto às vezes quando não suporto ver minha irmã apta a  ajudar e ainda assim, estagnada, como sempre, o que me irrita profundamente -, e até mesmo na casa de cultura onde faço aula de tudo, sempre me ofereço a ser útil; me faz bem.
Eu erro, claro, sou um ser humano. Talvez erre sem perceber... Mas tento sempre reparar, pedindo perdão, correndo atrás de esclarecer, sublimar os relacionamentos. Talvez seja isso: eu me preocupo demais. Mas há ainda quem se importe. Não posso ser tão pessimista. Hoje mesmo vivenciei a alegria de doar-me e pude ver a reciprocidade de quem nem esperava. Não obstante, é triste perceber que o frio chega a tantos corações.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Resposta

Esdrúxulos comentários que mentem: tornam  mitômano, ou creem na pura ingenuidade e tentam enganar tão frágil criatura. O medo de amar é como qualquer outra fraqueza. Advindo de homem feito com atitudes infantis, supõe que de fato não se pôde conhecer o amor, porque para amar é necessário sofrer, e para isso é necessário coragem, não sendo ela a ausência do medo e sim a atitude necessária para que seja demonstrado o que se sente. Quem mergulhou e se rendeu fui eu, que apesar do ceticismo, arrisquei-me para poder crer que existiria enfim algo de bom no mundo. Dizer e viver são verbos bem diferentes. E posso dizer com certeza, eu vivi. Mas o que eu  via era pura ilusão. Agora, que livrei-me das brumas posso te ver claramente: um ser fraco, infame, torpe. Fico feliz por não ter me deixado corromper e te agradeço por mais essa experiência.

Retomando minhas próprias palavras

E falando só.
As pessoas  não sabem, ao menos compreendem o que significa este amor que dizem sentir. De que vale a pena debater com alguém que nunca será capaz de amar autenticamente?  O que  acham que sou para aceitar facilmente suas vontades?  Não sou nenhum joguete  à mercê dos que conseguem aproximação. Devem aprender que o mundo dá voltas e não vale à pena magoar ninguém, porque não se negocia felicidade. Nem todo amor é incondicional e todos são incomensuráveis. Se pudessem ter consciência do quanto a vida é passageira, talvez pensassem duas vezes antes de jogar fora oportunidades que têm de ser  e de fazer os outros felizes. A vaidade foi tanta que por pouco não foram humilhadas, sem querer, as pessoas que talvez um dia foram importantes, e foi impedido que houvesse o mínimo de entendimento entre o que foi dito querer e os que partilham uma parte da vida. A injustiça foi entre todos e tive compaixão com quem de fato merecia. Senti-me suja por um erro cometido por outro. As pessoas se calam quando deveriam falar e falam quando deveriam ficar  em silêncio. Não vou ser hipócrita. Mas espero que meu estúpido sentimento não me faça mudar de ideia. E se há alguma consideração por mim, nunca mais cruzaremos o mesmo caminho. Meu corpo, quente, a alma, fria.O terror das lamentações e de ideias alheias. Percebo a necessidade da busca da invisibilidade horrenda do descaso. O rosto esboça a expressão do mais puro desprezo. Tento passar incólume pelos tropeços dos outros. O ódio que cede ao tempo se transforma até que a presença alheia seja insignificante. Que haja perdão enquanto houver humanidade mas que não haja chance enquanto houver amor próprio. Que ele exista até onde há o amor do Criador. Que assim seja.

Me Deixa Em Paz - Teresa Cristina e Seu Jorge

Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar


(...)

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Faces

Finjo que existo pra satisfazer minha vontade de ser. Essa pose intelectual cética de conhecedora dos mais obscuros segredos dos homens, dos mais absurdos enigmas, experiente nas mais cruéis e excepcionais aventuras; é a verdade, é a farsa. Do mundo nada conheço. Minha própria inexperiência me fascina. O mais profundo conhecer baseia-se nas viagens da mente que sonha na impossibilidade do nada. A menina envolta em finos trajes, ou muitas vezes sem os modos cuja mãe tanto lhe tentara ensinar, esconde suas fundamentais carências. A menina que brinca com as estrelas, fala com as plantas, idealiza os seres, tão dispersa e estabanada - tais característica a fonte de sua autenticidade -,  é feita da ingenuidade que não compete a esse alguém que veem. A essa mulher que eventualmente é.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

"O tempo voa como eu quando penso..."

Hoje vi o sol iluminando minha vida,
Senti o vento adormecendo minhas feridas
Andei pelos caminhos prazerosos do pensar
Dancei em meio ao calor do movimento
Escondi-me no silêncio
E percebi que estava apaixonada
Sem necessidade de esperar nada
Porque a satisfação de amar está no próprio amor
Que mesmo sofrendo vive

Dissolver e Recompor

Eu varro a sala, eu rego as plantas
Abro as janelas pro ar circular
Faço uma faxina pra limpar a casa
Faço uma faxina pra arrumar a vida
Pra dissolver e recompor
Até os infortúnios tem o seu valor
Na oportunidade de aprender com a dor
Portanto, a gratidão jorra pela fonte do meu coração
Tá no interior e ao redor
No trabalhar, no querer
Faz e não dá ponto sem nó
É o Mistério, é o Poder

Forfun

domingo, 19 de junho de 2011

Saudade

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."   C. Lispector

A Lucidez Perigosa

"Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano - já me aconteceu antes. Pois sei que - em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade - essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém."
C. Lispector

sábado, 18 de junho de 2011

O vazio do pensar angustiado

"Se desse a loucura da franqueza, que diriam as pessoas às outras? E o pior é o que se diria uma pessoa a si mesma, mas seria a salvação, embora a franqueza seja determinada no nível consciente, e o terror da franqueza vem da parte que tem no vastíssimo inconsciente que me liga ao mundo e à criadora inconsciência do mundo."
C. Lispector

Escrevo, copio, absorvo, devoro, sofro... Acompanhando a companhia vazia. Desesperando-se com o silêncio do corpo e com os gritos da alma encarcerada, colérica, débil apaixonada. Aonde está a verdade????????????? Como chegar ao profundo do outro sem examinar seus próprios arquivos? Sem entender sua própria existência, sem imaginar se o fim sucumbe em si próprio? Sem oportunidade de descobrir? Desnudo meus hábitos, preguiçosos, e os humilho perante meu julgamento. Nada me agrada. perco a identidade criando a minha nova- e diferente, e maior, clara, desconfortável, à mercê.  E as promessas de outros, minhas, crescem, imaginam, desejam. Tudo consiste no amanhã que repito e repito: não existe.

Clarice Lispector

"Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou coisa. (...) A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles d'água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho."

terça-feira, 14 de junho de 2011

Dreaming

Num palheiro como encontrar agulha? Como satisfazer-se com a triste ilusão? Como aceitar a solidão imposta por esse próprio amor amargo que só cresce e sufoca o ser? Como não levar a vida a sério? O amanhã não existe e o agora deteriora a perspectiva de um dia poder expressar o sublime que se sente.
Sentimento desorientador! A verdade se esconde na face medíocre da ignorância? Ou a mesma dita não pode ser crida pela falta de fé? Respostas que aparecem com ações (enganosas ou não) perderão suas máscaras com o prosseguir sem rumo do destino. Ele, que atua encarcerando as vontades pelos apelos da moral. Tudo enfim poderá continuar como deve ser: prosseguindo, findando ou criando... Tudo fazendo parte do caos que é. Códigos confusos?  Não. Só dizem o resultado de cada um desses desencontros. Cicatrizes que marcarão pra sempre a alma já tão conturbada a vida já tão confusa, o medo crescente e a descrença final. Nada poderá mudar o que já está dito. As escolhas já foram feitas. Quem não foi preciso perdeu mais uma parte de si. Como provar, como impressionar? O mutável é mudo e invisível aos olhos de quem o deseja.
Palavras voam ao vento. Leva pois essa mente que tanto deseja dormir eternamente, ter bons sonhos e sonhar que um dia a realidade virá sem expectativas e se vier serão superadas. Nem tanto é necessário. Só permita Deus o alcance do nada, do não existir, do fim do fôlego da vida, sem pensamentos, sem dor, sem "psique".

sábado, 4 de junho de 2011

Dor

Dor!
Esse aperto no peito, essa vontade desgraçada de não existir. O que quero, que espero é apenas o fim. Dessa angústia, das lágrimas que insistem em não me deixar só, dos desejos que não me levam a nada, dos limites que bloqueiam meu ser, do medo de errar, do perfeito que nunca é, do sonho que é ilusão, do certo porque é. Nunca é. Só mais uma desculpa pra reduzir o ser humano. Só mais um ser humano que não pode ter o quer. Só mais um querer que poderia ser. Só mais um conflito pra essa vida de caos. Então, só mais uma mágoa por nada, engolindo a verdade, deixando que mais uma desculpa boba seja jogada ao vento. Nem sei mais aonde está a verdade... Nesse mar de desespero, qualquer vento é tsunami.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Inquietude

Está tão frio ...
O gélido toque que a mente imagina, fria,
Reflete somente a alma vazia
E a solidão do estar tranquilo no desespero do viver
Ilusão que se cria
Mortalidade verídica
Esperança de renascer
Corpo, alma, crença, sabor
tudo que resta, enfim, é a dor
E rimas inúteis
Graças à pieguice do amor