"Ouve apenas superficialmente o que digo
e da falta de sentido nascerá um sentido
como de mim nasce inexplicavelmente vida alta e leve"
C. Lispector

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Parei, enfim

Já faz meses que não paro. Não que seja algo latente...  A falta sempre esteve ali expressa em irritação, insegurança e medo. Só vejo de forma mais clara agora. É tão ruim não poder apenas ler incessantemente algum livro interessante ou ainda desligar o cérebro por horas em frente de uma TV. Sonhos vívidos e amedrontadores me fazem definhar minutos antes de esquecê-los. Sinto-me obesa, insossa, enferma, nostálgica: Uma angústia crescente que só aumenta e dissipa a letargia que me consome. Um monstro adormecido que, por vezes, me controla! Ou será que apenas é tão distraído quanto sua presa e inerte é subjugado periodicamente por vis instintos? Poderia ter controle... Crédula que tento ser ignoro o descuido e sorvo meu próprio desespero. Preguiça e descaso impedem a realização de direitos acadêmicos. Decido-me, contudo, não me drogar. A droga da estagnação e da obediência. A abstinência corrói qualquer certeza. As horas se perdem na abnegação da coragem, do bom-senso e do pensar de que há quem me ame. A fertilidade dos campos do intelecto é letal e atinge o ápice. A ascensão da descrença é factual. Sinto vontade de estar perto dele para que sua devoção seja meu foco, mas, de forma infeliz, isso já ocorrera e na verdade só vi através de uma lente turva carinhos falsos e propositados. Enquanto leio não é preciso me situar sobre minha vida. Outro mundo é bem mais fascinante. A lucidez é uma ameaça. Entrementes ouço latidos e uivos ao lado e me pergunto por que não me chamaram. Minhas lágrimas e lamentos poderiam fazer coro aos sons obscenos que entoam. Obtusa, resignei-me a escrever, escrever para mim, o que tão somente é a consequência da doença-da-alma e não o cerne das mazelas. Este está cada vez mais inacessível. 

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