"Ouve apenas superficialmente o que digo
e da falta de sentido nascerá um sentido
como de mim nasce inexplicavelmente vida alta e leve"
C. Lispector
Parei, enfim
Já faz meses que não paro. Não que seja algo latente... A falta sempre esteve ali expressa em
irritação, insegurança e medo. Só vejo de forma mais clara agora. É tão ruim
não poder apenas ler incessantemente algum livro interessante ou ainda desligar
o cérebro por horas em frente de uma TV. Sonhos vívidos e amedrontadores me
fazem definhar minutos antes de esquecê-los. Sinto-me obesa, insossa, enferma,
nostálgica: Uma angústia crescente que só aumenta e dissipa a letargia que me
consome. Um monstro adormecido que, por vezes, me controla! Ou será que apenas
é tão distraído quanto sua presa e inerte é subjugado periodicamente por vis
instintos? Poderia ter controle... Crédula que tento ser ignoro o descuido e
sorvo meu próprio desespero. Preguiça e descaso impedem a realização de
direitos acadêmicos. Decido-me, contudo, não me drogar. A droga da estagnação e
da obediência. A abstinência corrói qualquer certeza. As horas se perdem na
abnegação da coragem, do bom-senso e do pensar de que há quem me ame. A
fertilidade dos campos do intelecto é letal e atinge o ápice. A ascensão da
descrença é factual. Sinto vontade de estar perto dele para que sua devoção
seja meu foco, mas, de forma infeliz, isso já ocorrera e na verdade só vi
através de uma lente turva carinhos falsos e propositados. Enquanto leio não é
preciso me situar sobre minha vida. Outro mundo é bem mais fascinante. A
lucidez é uma ameaça. Entrementes ouço latidos e uivos ao lado e me pergunto por
que não me chamaram. Minhas lágrimas e lamentos poderiam fazer coro aos sons obscenos
que entoam. Obtusa, resignei-me a escrever, escrever para mim, o que tão
somente é a consequência da doença-da-alma e não o cerne das mazelas. Este está
cada vez mais inacessível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário